Após uma denúncia sobre a suspeita de um surto de leptospirose em um abrigo de indígenas venezuelanos ter sido feita por moradores, a transferência para um novo local está em negociação. A informação foi confirmada pelo Serviço Pastoral dos Migrantes (SPM) e pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento Humano da Paraíba (SEDH), nesta sexta-feira (25), em João Pessoa.
De acordo com o SPM, uma procura por novos imóveis está sendo feita para que a transferência dos indígenas aconteça nos próximos meses. Na busca, um prédio público já foi colocado em negociação.
A SEDH também informou que novos locais de abrigo estão sendo providenciados, com o objetivo de melhorar o atendimento prestado aos indígenas warao e garantir melhores condições de saúde e acolhimento.
De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, mais de 50 pessoas do abrigo foram examinadas após a denúncia do surto de leptospirose. Dentre eles, 20 possuíam fortes sintomas da doença.
Até o momento, dez pessoas passaram por testes no abrigo indígena warao, e metade testou positivo.
O problema, além de ser motivado pelas condições sanitárias precárias do abrigo, também é acentuado pela superlotação do local, que possui capacidade máxima para cinquenta pessoas, mas atualmente conta com quase o dobro da quantidade.
De acordo com Roberto Saraiva, coordenador do Serviço Pastoral dos Migrantes, a dificuldade não é uma realidade enfrentada somente no abrigo, e que existe o aumento constante da população indígena venezuelana em todo o estado da Paraíba.
“Quando nós iniciamos os processos de acompanhamento aqui, tínhamos 378 pessoas cadastradas. De janeiro para cá, isso subiu para 625. Praticamente duplicou a população que tínhamos em março do ano passado”, disse ele.
Segundo o antropólogo Jamerson Lucena, que estuda os indígenas warao, o problema enfrentado pelos indígenas venezuelanos também está ligado ao choque cultural vivido pela população ao sair de um modo de vida rural para um contexto extremamente urbano.
“Eles estão ainda buscando se adaptar ao contexto urbano. A imensa maioria das famílias que vivem aqui não tinha acesso a esse modo de vida urbano. Viviam em casas de palafitas, redes”, disse ele, que já foi até o território indígena warao na Venezuela para experenciar as condições em que eles viviam originalmente.
De acordo com a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Humano da Paraíba, as ações voltadas aos migrantes e refugiados indígenas da etnia warao acontecem desde 2022, quando uma equipe multiprofissional foi formada para atuar nos abrigos e locais de moradia, vinculada ao Centro Estadual de Referência do Migrante e do Refugiado (CERMIR).
No entanto, segundo o antropólogo, a estratégia usada em relação aos abrigos precisa ser renovada para que os indígenas possam se adaptar de forma apropriada e ainda conseguir manter a preservação dos seus costumes.
“Essa política de abrigo teve muita utilidade durante o período da pandemia, mas a partir de 2022 para cá, deveriam buscar outra estratégia, para que colocassem eles em áreas rurais. […] Uma área rural onde eles possam plantar, caçar, tomar banho de rio, fazer artesanato”, disse o antropólogo.